O Brasil é um exemplo a seguir nas Lutas Olímpicas

Luta olímpica mira os jovens. Entre eles, um ex-gordinho e um ex-sem-terra

Erivan Rocha passou por momentos difíceis como sem-terra no ES, e Rafael Crystello Filho perdeu 20 kg dos seus 120 kg para ser lutador
A luta olímpica brasileira viveu no mês de setembro o seu grande momento, com a conquista inédita de uma medalha de prata no Mundial realizado no Uzbequistão. Aline Silva foi a autora do feito, mas não é a única aposta da modalidade. Apesar de ser um esporte que ainda engatinha no Brasil, um trabalho de base vem sendo feito na seleção e fora dela, buscando talentos tanto para os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, quanto fundamentando uma base de mais longo prazo, de olho em 2020. De quebra, tem servido para mudar a vida de garotos como Rafael Crystello Filho, que já pesou mais de 120 kg, e Erivan Rocha, um ex-sem terra.

Coordenador de seleções da Confederação Brasileira de Lutas Associadas, Flávio Cabral lidera um projeto para unificar a iniciação de atletas na luta olímpica. Por enquanto, a medida mais importante foi instalar uma concentração no Rio de Janeiro, reunindo no Cefan, da Marinha, 11 jovens talentos e dando a eles a chance de se dedicar com mais ênfase aos treinos, enquanto também estudam. Ex-atleta, ele também trabalha em um projeto que caça talentos em Niterói.

"Luta é um esporte que demanda muito tempo, muitos treinos. Esses meninos fazendo um período (de treino) por dia não seria suficiente, então resolvemos trazê-los e manter em regime de concentração, para fazer duas vezes por dia e ainda conciliar com escola, o que eles não poderiam fazer onde moravam", explica Flávio.

Foi por meio da luta olímpica que Erivan Rocha, 16, deixou para trás uma vida levada na roça cheia de obstáculos e com uma passagem em que ele e a família se viram no meio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Natural de Montanha, no interior do Espírito Santo, Erivan foi descoberto pelo projeto do técnico Bruno de Paula, no meio de cerca de 80 meninos que treinavam, ele se destacou e foi chamado para a seleção de base. Antes disso, a realidade era bem diferente.

"A gente morava em um sítio, mas houve uma ação do Incra e nos deram 40 dias para sair de lá. Quando saímos, passamos dificuldade, moramos na beira da estrada e nos juntamos ao MST, meus pais, eu e meus dois irmãos", conta Erivan.

O garoto não viveu duelos por terra, confrontos ou situações de perigo e teve sorte: acabou beneficiado por uma divisão de terras que fez sua família ganhar uma nova propriedade, um novo sítio em que estão até hoje.

"Sem a luta eu estaria só na escola e na roça, ajudando a capinar café, cuidar das vacas, cuidar da casa e dos meus irmãos. Lembrar disso me dá mais força para continuar na luta, pensar para frente e continuar. Meu objetivo é 2020", explica o capixaba, ainda novo para entrar na seleção adulta no Rio-2016.

Ex-gordinho afina e tenta furar a fila por 2016

Rafael Crystello Filho é de Vitória e começou sua carreira como lutador em outra arte: o jiu-jítsu. Assim como Erivan, ele foi descoberto por Bruno de Paula. O técnico viu aquele jovem pesado de mais para seu peso, com mais de 120 kg, e o desafiou a conhecer uma nova modalidade.

Para treinar bem e competir na luta olímpica, no entanto, o capixaba tinha de perder os quilos extras. "Tive que emagrecer uns 20 kgs. Comecei na luta, emagreci e fiquei. Meu professor me ajudava muito, me levava para correr, incentivava, ajudava na dieta... E foi muitro treino, é claro. Em seis meses tinha perdido o que precisava", afirma Rafael, de 17 anos.

Hoje a dupla mora em um alojamento da Marinha no Rio e pode até pensar em servir quando completarem 18 anos para seguir uma carreira militar. Por enquanto, Rafael só pensa nos treinos. Ele está sendo amadurecido para 2020, mas não descarta uma chance de competir uma Olimpíada em casa. "Se Deus quiser, posso representar o Brasil em 2016. É uma questão de trabalhar."

Para Flávio Cabral, a importância de ter os jovens reunidos desde cedo é grande. Este tipo de trabalho é feito em modalidades como o boxe e contribui para que os atletas amadureçam e ganhem experiência.

"São coisas que demandam tempo. Não se constrói resultados esportivos em 3 ou 4 anos, precisa de uma vida inteira. Quanto mais cedo a gente começa, mais dá para trabalhar e as possibilidades aumentam. Há quatro anos fomos para o Sul-Americano e fizemos 4 pontos. Neste ano, fizemos dois campeões, três vices, dez terceiros lugares. O nível aumentou muito", diz ele, completando: "E trabalhar com os garotos é muito gratificante, porque você acaba lidando com pessoas, conhecendo a história delas."

Fonte: UOL

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