Jornal de Barcelos reporta CP Martim

Vinte jovens dos quatro aos 19 anos treinam e competem nas lutas amadoras

A luta continua... na Casa do Povo de Martim!

Quando duas crianças se pegam à bulha, o instinto é para agarrar o outro pelo tronco ou pelo pescoço. É inato. As lutas amadoras partem daí mas têm regras para não aleijar o adversário. “É um desporto de combate em que temos como objectivo dominar o nosso adversário, mas não magoá-­lo.

Foto: Rúben Pimenta
Tanto serve de ataque como de defesa pessoal”, explica Carlos Rodrigues (à esq. na foto), treinador da Casa do Povo de Martim. As lutas amadoras incluem vários estilos, mas os que existem na CP Martim são a luta greco­ romana, luta livre olímpica e luta feminina. O clube tem actualmente 20 jovens, entre os quatro e os 19 anos, a treinar e a competir em diferentes escalões de formação. Não tem seniores.

A modalidade nasceu na CP Martim em 2001 pela mão de Emília Santos e Leonor Pinheiro, que “trouxeram a modalidade de Braga da Secundária Sá de Miranda”. Responsável pela secção durante
muitos anos, Leonor Pinheiro emigrou, sendo substituída por Carlos Rodrigues.

Treinador e dirigente, foi também o último sénior da CP Martim. “A maior parte dos atletas quando chega à idade de ir para a universidade ou de trabalhar, desiste da modalidade, porque não consegue conciliar a prática do desporto com a escola ou a profissão”, lamenta o técnico natural de Martim que sempre competiu na colectividade local.

Há treinos três vezes por semana. Às terças e quintas­feiras, a partir das 19h00, e aos sábados, às 10h00.

Os pais que estejam interessados podem colocar os filhos um mês à experiência e, depois, se a opção for continuar, apenas têm que pagar 20 euros anuais. Esse valor serve para custear a inscrição na Associação de Lutas Amadoras de Braga e na Federação Portuguesa de Lutas Amadoras, assim como a realização de um exame médico.

“Não pedimos nada mensalmente aos pais, tentamos fazer o que conseguimos com as nossas verbas”, sublinha o dirigente Artur Oliveira (ao centro na foto). “Se pedirmos mais 20 euros, se calhar a maior parte [dos atletas] deixa de aparecer cá e desiste da modalidade”, completa Carlos Rodrigues.

JUNTA APOIA MODALIDADE

Como se financia, portanto, a secção de lutas amadoras? “Dinheiro que angariamos ao longo do ano com rifas e outras coisas que vamos fazendo”, responde Artur Oliveira, acrescentando que a Junta de Freguesia também apoia a modalidade. A autarquia de Martim ofereceu novos equipamentos (os antigos já estavam “degradados”) e cede uma carrinha para transportar os atletas em deslocações mais longínquas (o que é frequente porque a modalidade não está tão desenvolvida no Norte e há muitos torneios “lá para baixo”). “Não querem que a gente desista”, justifica Artur Oliveira. E não se fica por aqui o apoio da Junta, que cede ainda o espaço no Complexo Desportivo de Martim onde os atletas treinam, desde que a infra-estrutura abriu, há dois anos. Antes, os treinos eram “nos balneários do antigo campo” de futebol do Académico de Martim, que foi cortado pela A11. Era um espaço “pequenino” e “estreitinho”, ilustra Carlos Rodrigues.

Todavia, da parte da Câmara Municipal não há apoio. O treinador refere que já chegou a falar com o vereador do Desporto, Carlos Brito, mas nada se concretizou e “nos últimos tempos” não tem “entrado em contacto” com o Município. “Estamos longe do centro, é complicado”, lamenta.

A Associação de Lutas Amadoras de Braga (ALAB) “financia as deslocações” para as provas distritais. “Fora dessas somos nós que financiamos”, realça Carlos Rodrigues.

A CP Martim tem sete atletas dos quatro aos dez anos, outros tantos dos 10 aos 14 e seis dos 14 aos 19. “Nos últimos quatro anos [o número de praticantes] esteve sempre a baixar, mas agora está a aumentar um bocado”, refere o treinador. Os atletas não são apenas de Martim mas também de “freguesias vizinhas”.

Página do Jornal de Barcelos

QUEM NÃO TIRAR BOAS NOTAS, NÃO COMPETE

A idade ideal para começar a praticar lutas amadoras, considera o treinador, é aos quatro anos, “para trabalhar a flexibilidade” – embora só comecem a competir aos oito. E a prática da modalidade tem um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo dos jovens. “Quem quiser ser bom atleta, tem que ser bom na escola”, sublinha Carlos Rodrigues, dando o seu exemplo pessoal. “Eu com 15 anos era um fraco aluno e a minha mãe sempre me disse: se queres continuar [nas lutas amadoras] tens que tirar boas notas e hoje sou engenheiro à custa disso. Se há uma coisa que me fez estudar foi isso, porque se queria treinar tinha que tirar boas notas”. E hoje aplica esse princípio aos atletas que treina: “No final de cada período peço sempre as notas deles. Se têm fracas notas não vão a torneios, como castigo, assim são obrigados a
esforçar­se”.

Artur Oliveira destaca ainda a formação dos miúdos a nível pessoal, que saem das “saias da mãe” e passam fins­-de-­semana fora a conviver uns com os outros quando vão para torneios. “Para eles é uma coisa diferente, vão para outro meio”, sublinha.


CAMPEÕES NACIONAIS E ATLETAS NA SELECÇÃO


Corolário do trabalho que a CP Martim vem a realizar nas lutas amadoras é ter dois campeões nacionais e três ‘vices’ – em cadetes e juniores. Inês Oliveira detém o título nacional em luta feminina e Mário Pinheiro o de luta livre olímpica. Mário Oliveira, Ruben Pimenta e Diogo Oliveira são detentores de segundos lugares a nível nacional.

Cinco atletas da CP Martim são também regularmente convocados para a selecção nacional: Mário Oliveira, Mário Pinheiro, Ruben Pimenta, João Sá e Hugo Fernandes. “É bom para eles porque ganham experiência, fazem mais combates, treinam com vários atletas de outros clubes”, avalia Carlos Rodrigues, assinalando contudo a “dificuldade” de o seleccionador ser do Sul, o que obriga a deslocações longas.

A distância é também o maior problema que Carlos Araújo (à dir. foto em cima) encontra na
actividade de árbitro de lutas amadoras. “É difícil treinar como árbitro, porque a maior parte dos torneios é lá em baixo e por isso não há assim muita acessibilidade. Sou convidado mas muitas vezes não posso ir, por causa da universidade”, refere o também treinador da CP Martim.

Frisando que “não é um desporto violento”, Carlos Rodrigues incentiva a sua prática lembrando que foi praticado por muitos ilustres a nível mundial, desde artistas (Tom Cruise) a cientistas (Benjamin Franklin) até oito presidentes dos Estados Unidos (entre eles, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln). Em Portugal, Rui Unas e João Pedro Pais são caras conhecidas que também foram praticantes da modalidade.

Gentilmente cedido por: Pedro Luís Silva - Jornal de Barcelos

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