Entrevista a Rui Soares

Entrevista a Rui Soares

Treinador do Clube Musical União



Rui Soares é um dos muitos multifacetados que as Lutas Olímpicas têm, ele é Wrestler, ele é Treinador, ele é Árbitro e ele é Dirigente Desportivo. Gosta do que faz e principalmente ama esta Nobre Modalidade. À seis meses atrás fez uma proposta ao Clube Musical União de implementação das Lutas Olímpicas, no qual foi recebido de braços abertos. Sem qualquer pressão do seu lado, construiu uma Equipa de Juniores e Seniores, provenientes do Clube Desportivo de Arroios e no inicio da actual Época Desportiva, consegui, derrubar o apogeu da melhor Equipa da ultima década, na Taça de Portugal 11. Prepara-se para arrecadar muitos títulos de Campeões Nacionais Individuais para a Freguesia de São João – Lisboa e no final do ano espera ser Campeão Nacional por Equipas. A Ambição esta estampada no Seio deste Clube, dos seus Dirigentes e dos Homens do Leme, a Equipa Técnica, Orlando Gonçalves, Mário Lopes e Rui Soares o nosso Entrevistado. Conheça o percurso de Rui Soares, nas Lutas Olímpicas.


Mundo da Luta Olímpica – Como e onde iniciou a modalidade? O que o levou a optar pela modalidade?
Rui Soares - Iniciei esta modalidade no Clube Desportivo de Arroios, por três razões: por ser uma colectividade junto da minha Casa, ser uma oportunidade de praticar um desporto e porque o meu irmão Ricardo Soares já praticava a modalidade à 1 ano.


MLO – Descreva um pouco a sua carreira como Wrestler.
RS – Entrei para o CDA aos 5 anos com o Mestre Mário Lopes em Lisboa, que contava com o apoio do Mestre Victor Pinto. Permaneci no CDA durante 8 anos seguidos, aos 14 anos assinei pelo Sporting Clube de Portugal onde o Mestre era o Luís Grilo, e aqui permaneci só uma época voltando para o CDA.
Fui surpreendido aos 15 anos com o convite de integrar a Selecção Nacional, como Júnior onde o Seleccionador Nacional era o Mestre Búlgaro. Já com o Símbolo da Quinas participei num Torneio em Vigo – Espanha e em Junho de 1994 participei no Campeonato do Mundo de Juniores em Budapeste – Hungria, onde consegui uma vitória sobre um Polaco e fui eliminado por um Russo.
Nesse mesmo Campeonato tive uma crise de epilepsia onde o Médico Especialista confirmou que teria de parar 6 meses. Confrontado com essa situação e com a separação dos meus Pais, tomei a decisão de abandonar a modalidade aos 16 anos de começar a trabalhar.
Voltei em 2002 para me formar como Treinador, tendo exercido esta função no CDA como Adjunto do Mestre Mário Lopes, voltei só a entrar em competição em 2007. Acabei também por me formar Árbitro de Lutas Olímpicas.
Ao longo destes tempos consegui 4 Campeonatos Nacionais Individuais e Regionais.


MLO – Que cargos desempenha ou já desempenhou na Luta?
RS – Ainda sou novo e em muitos cargos irei participar. Mas neste curto espaço de tempo já fui: Atleta Nacional e Internacional, Treinador Adjunto do CDA durante 4 anos, Treinador Principal no Clube Musical União, iniciado em 2010 e Árbitro.


MLO – Qual dos cargos lhe dá maior gozo de praticar? Porque?
RS – Todos os cargos têm um gosto especial, mas até agora o que me deu mais gozo foi como Treinador na Taça de Portugal. Arbitrar sem dúvida é outra forma de ver a luta, também é muito bom.


MLO – Neste momento está a administrar treinos no Clube Musical União da Freguesia de São João, como surgiu esta hipótese?
RS – Em 2010, fui convidado para um aniversário, o qual se realizou no Salão do CMU. Nesse dia tomei conhecimento que essa Colectividade não tinha uma Modalidade Desportiva Federada, aproveitando (infelizmente) do CDA, devido a ter uma Direcção pouco credível, por falta de condições e de apoio, optei por propor à Direcção do União a implementação desta Nobre Modalidade, na qual foi a prontamente aceite. Efectua-mos protocolos com a Junta de Freguesia de São João, conseguimos credibilidade e condições mínimas para a prática da modalidade e claro, não posso esquecer a ajuda da Associação de Lutas Amadoras de Lisboa que facultou o recinto de combate.
Com a concordância do Mestre Mário Lopes e dos atletas fizemos a transferência para CMU no tempo do mercado aberto, tudo feito como mandam as regras.
Convidei o Mestre Orlando Gonçalves, ex-Seleccionador Nacional, para transmitir experiência dos mais de 50 anos dedicados à luta e ingressar na Equipa Técnica, tendo como objectivo a preparação dos Juniores/Seniores, ficando eu e o Mestre Mário Lopes com as camadas mais jovens.


MLO – Ao fim de 6 meses da Filiação do CMU na modalidade conseguiram algo extravagante vencer a Taça de Portugal de 2011, frente à Casa Pia Atlético Clube, que tinha vencido as 4 Taças anteriores. Conte-nos como foi toda a nostalgia de erguer a Taça Rainha?
RS – Esta vitória teve um gosto muito especial, foi muito importante para todos e quando digo todos, não falo só dos Atletas e Treinadores, mas também de todo o Corpo Gerente do CMU.
Foi também importante para os Habitantes da Freguesia que começaram a conhecer as Lutas Olímpicas pelos meios de comunicações locais.
Em questões pessoais, este Título e a Taça era o que faltava no palmáres do “nosso” Clube de Coração, o CDA. Consegui-mos conquistá-la mesmo representando outro clube, foi simplesmente uma grande emoção e não vamos parar por aqui.


MLO – Como é que a Direcção do CMU viu este extravagante feito?
RS – O clube comemorou os 127 anos no dia 3 de Março e na sua Festa de Aniversário foi notável o destaque feito à Luta, tanto pela Direcção como pelo Presidente da Junta de São João. Os Corpos Gerentes deste clube acreditaram e apostaram na modalidade de tal maneira que fui convidado para a integrar na Direcção do clube, com um cargo dedicado às Lutas.
Acredito que foi também a única Direcção a estar presente na Taça de Portugal e isso diz muito.


MLO – Esta Equipa obteve muitas transferências desde a Equipa Técnica aos Wrestlers. Falo dos Treinadores Orlando Gonçalves e Mário Lopes e Wrestlers como Manuel Almeida, os irmãos Gonçalves e reforços estrangeiros. Esta foi uma das receitas para vencerem a Taça?
RS – A receita já estava feita no CDA mas faltava alguns ingredientes como:
Como todos sabem o Mestre Orlando Gonçalves já algum tempo colaborava com o CDA em treinos, os manos Almeidas e Gonçalves também já faziam parte.
Então os novos ingredientes, vou passar a citar, foram:
1º Clube novo com a direcção a apoiar a 100%;
2º Foi reunida oficialmente uma Equipa Técnica com objectivo definido e transmitida essa ambição aos atletas;
3º Eu que tinha decidido deixar a competição voltei a participar nos treinos e competição;
4º Passou a haver 5 treinos por semana: 2 de manha e 3 à tarde;
5º Foi criado um ambiente de união em torno de todos os atletas;
6º Foi criado uma página no facebook onde se divulga e se dá valor a tudo que rodeia os atletas e a modalidade, na qual já dá frutos;
7º Através do Facebook apareceu interessado o atleta Kevin Scholle;
8ª Por toda a Freguesia foram distribuídos Flyers a divulgar a Modalidade e daí apareceu o atleta Radu Cataraga, antigo Internacional pela Moldávia;
Depois foi só juntar os ingredientes e com algumas pitadas estratégicas e complementares de treinos de Alta-Competição do Mestre Orlando Gonçalves, do Mestre Mário Lopes e eu, que dificilmente será derrotada.
Mas o mais importante será: se perdermos uma Taça não faz mal, o que realmente interessa é não perder a União e Esperança.


MLO – A partir desta vitória haverá muita especulação e muita pressão. A Equipa Técnica e os Wrestlers estão preparados?
RS – Estamos bastante tranquilos e como já disse temos os objectivos para esta Época traçados e é para isso que treinamos, para que os resultados apareçam, continuamos mais unidos do que nunca. Contamos com fortes apoios, do Clube e da Junta que têm sido exemplares, por isso não há motivos para preocupações.


MLO – Os seus Wrestlers aspiram em chegar ao topo?
RS – Sem dúvida que faremos de tudo para ganhar todas as provas em que participaremos e claro assim chegar ao topo – Alta Competição, apesar de já termos Atletas na Selecção Nacional.


MLO – O CMU a nível de Seniores, esta bem servido, mas fora isso como está a prever a formação das camadas Jovens?
RS – Neste momento, estamos com 10 Atletas com idades compreendidas entre os 8 e os 16 anos, miúdos novos com muita vontade. Para mim a parte mais difícil de um Treinador é conseguir que os atletas destas idades a frequentarem os treinos com regularidade.



“Sem dúvida que faremos de tudo para ganhar todas as provas em que participaremos e claro assim chegar ao topo…”



MLO – Além de Treinador é Árbitro, porque envergou por essa área?
RS – Enverguei porque pensei que não voltava a competir e muito menos que agarrava este desafio de ser Treinador Principal, por isso para me sentir ligado ao meu desporto de Coração tirei o Curso de Árbitro.


MLO – Quais os seus objectivos com a Carreira de Árbitro?
RS – Depois de 2 anos no activo chegar a Árbitro Nacional já foi bom, mas o mais importante é poder estar ligado á esta modalidade até ter bengala.


MLO – Qual o Torneio que mais gosta de Arbitrar?
RS – Gosto de Arbitrar os Torneios por Equipas, porque é muito emocionante são competições muito importantes.


MLO – Quando se “reformar” o que poderemos esperar de Rui Soares?
RS – A vida dá muitas voltas e espero que esteja ainda ligado à Luta por outras formas, nem que seja por um excelente trabalho com o “Mundo da Luta Olímpica”.
Não posso esquecer que lá em casa todos praticam esta modalidade, por isso quem sabe, se algum dos meus filhos chega a Alta-Competição, assim serei o seu “Manager”.


MLO – A Luta é um desporto pouco divulgado a nível nacional, porque é que isso acontece?
RS – O Departamento Desportivo dos clubes não têm formação, nem apoio da parte das Entidades responsáveis pela divulgação desta modalidade, por isso existe essa grande falha.


MLO – Que acha do Projecto “Blog Mundo da Luta Olímpica”?
RS – Sem dúvida um dos melhores informadores da Luta Olímpica a Nível Nacional e Internacional. No mínimo devia haver um Torneio dedicado a este Blog, porque não só de Atletas Olímpicos se faz a Modalidade, e o MLO tem feito muito e muito pela Luta.
Este é o melhor Blog Desportivo da nossa Modalidade a nível cultural, desportivo e informativo, está de parabéns.


MLO – O que deve melhorar na Luta?
RS – Devia melhor a divulgação, para que mais Instituições aderissem a esta Modalidade. Seria também necessários mais treinadores de forma a ensinar esta prática Desportiva a um maior número de interessados levando mais jovens a entrarem na Luta.
Conclusão, para mim, um dos maiores problemas é mesmo a falta de divulgação. Porque, ainda há muitas pessoas que não conhecem a modalidade e quem a conhece, acha que é uma modalidade muito violenta.
Seria necessário mais união entre os Clubes e as suas Associações, cabendo a eles fazer Projectos que tivessem o objectivo de divulgar a modalidade, dou algumas ideias como, Exibições, Torneios nos clubes, Festas da Modalidade, distribuição de Flyers pelas Escolas, entre outros.
Muito mais é preciso em relação a Clubes, Atletas, Treinadores, Árbitros, mas cada caso é um caso.


MLO – Que alegrias e desilusões a Luta lhe deu?
RS – Uma das maiores alegrias foi quando entrei no avião para representar Portugal no Campeonato do Mundo de Juniores na Hungria, foi uma sensação inexplicável.
Ganhar a Taça de Portugal 2011 também foi muito bom, pois deu mais credibilidade ao projecto do CMU e não posso esquecer a minha primeira medalha, foi um orgulho. A maior desilusão foi mesmo o afastamento da Luta na melhor parte da carreira de atleta, Alta-Competição.


MLO – Partilhe connosco uma história desta modalidade que a tenha marcado.
RS – Passou-se na Hungria no Campeonato do Mundo. Eu estava bastante nervoso, pois era a minha grande internacionalização no Campeonato do Mundo, muitos Atletas de várias Nações, para mim era fascinante. No aquecimento antes dos Combates a aquecer as pernas num exercício de levantamento, tive um ligeiro descuido e o pé de apoio escorregou e dei um grande trambolhão que toda a gente ficou a olhar com um sorriso na cara. Nesse momento, ainda a curar a vergonha e o nervoso miudinho, o Mister chamou-me que já estava na hora do meu combate. No combate, fiz uma entrada à perna direita do adversário que sem sucesso me fez retomar a posição inicial, nesse precioso milésimo segundo levei as mãos ao cabelo para o pôr atrás das orelhas, pois tinha cabelo comprido, o adversário entrou forte e conseguiu derrubar-me, não será preciso dizer que perdi a eliminatória.
Por isso aconselho, não ter o cabelo cumprido neste Desporto e manter a calma.


MLO – Que última mensagem gostaria de deixar aos leitores desta entrevista?
RS – Blogs e Revistas como estas não devem passar ao lado dos apaixonados por desporto, DESPORTO NACIONAL SEMPRE.


Obrigado Rui Soares pelo tempo disponibilizado e por ter respondido a estas perguntas de um modo aberto e sincero.

Mundo da Luta Olímpica
João Vitor Costa

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