Qualidades da Luta Olímpica

Introdução

O meio desportivo apresenta grandes exigências dos atletas, sendo necessário o desenvolvimento das capacidades físicas, dentre estas, esta a resistência de força, capacidade física necessária para o desempenho óptimo do atleta de luta.

A preparação física é um factor necessário ao atleta que objectiva o mais alto desempenho, é nela que estarão os meios, métodos e factores para colaborar com o rendimento desportivo (FORTEZA, 2000). É necessário compreender os factores casuais, os mecanismos e as leis do processo de formação da maestria desportiva durante o treinamento plurianual (VERCHOSHANSKIJ, 2001a). São nestes factores que estão contidas as capacidades físicas e desta forma, sua distribuição e controle.

As actividades desportivas apresentam características distintas, tanto quanto à sua aplicação como em seu treinamento, como nas lutas desportivas que pertencem ao grupo das modalidades com condições variáveis de competição e que exigem resistência específica (Ide e Padilha, 2005). O traço característico do nível desportivo nessas modalidades é a existência de um conjunto amplo de movimentos motores complexos caracterizados pelo nível de desenvolvimento da capacidade de aplicar esforços, possuindo certa variedade de adaptação às condições variáveis de competição. Na luta desportiva as situações motrizes mudam em fracções de segundo, em função da interacção motriz que se estabelece com o oponente (GARCÍA e BESTARD, 2000). No boxe um dos objectivos para ser alcançado pelo treinador é incrementar a recuperação dos lutadores no minuto de descanso entre cada assalto (Quesada, 2003). No judo o acúmulo de lactato pode interferir na velocidade de reacção em diferentes tempos de luta, principalmente se a capacidade de eliminá-lo for lenta (LIMA et al., 2004).

No processo de treinamento estão contidos os testes, visando colaborar com o controle e progressão dos trabalhos propostos. A avaliação é um dos principais aspectos da preparação do atleta, pois através desta é possível detectar pontos fortes e deficiências, permitindo melhor adequação de carga de trabalho (FRANCHINI et al., 1999).

Para obtenção do sucesso desportivo é necessário estabelecer controle frequente sobre os mais variados factores, estes são necessários para fazer um acompanhamento do atleta ao longo da temporada, tendo em vista que a periodização faz com que ocorram alterações no rendimento físico, o que provoca necessidade de um constante ajuste no treinamento, para evitar uma carga inadequada (MARINS e FERNANDEZ, 2004). São muitas formas para determinar o nível de desenvolvimento do organismo frente à influência do treinamento físico e da capacidade de trabalho do atleta. Por meio da utilização dos distintos tipos de testes, o treinador de luta deve utilizar o método dos exercícios controlados (testes pedagógicos) em cada certo tempo, assim, dará uma ideia objectiva do trabalho realizado e consequentemente analisar onde estão os lucros e as deficiências (CATALÁ 2003).

Isto posto, este estudo tem como objectivo analisar a resistência de força em atletas de modalidades de combate como o boxe, judo, luta – olímpica e taekwondo, estas disputadas nos jogos olímpicos.

Metodologia

Neste estudo foram analisados 40 indivíduos do sexo masculino com idade entre 18 e 30 anos (23,8 ± 4,2), atletas de luta existentes nos jogos olímpicos (boxe, judo, luta – olímpica e taekwondo).Sendo 10 atletas em cada modalidade, que realizam no mínimo de 5 sessões de treino por semana, com vida activa em competições de nível estadual ou nacional. Estes atletas foram analisados em sua respectiva área de combate, com os respectivos trajes para sua modalidade.

Todos concordaram com a participação voluntária após serem informados das características do teste, assinando um termo de consentimento informado, conforme aprovação pela directoria de pesquisa do núcleo das ciências biológicas e da saúde do UniFMU.

Estes atletas foram submetidos a um teste com um protocolo específico para lutas especialmente desenvolvido para este estudo, após apresentar correlação positiva de r = 0,68, com o teste de resistência muscular do abdómen e flexores do quadril (Pollock, 1993), e correlação positiva de r = 0,71, com o teste de resistência muscular de membros superiores (Pollock, 1993), comummente descritos e utilizados na literatura.

O teste aplicado neste estudo tem como objectivo atender as características fisiológicas da capacidade física em questão e aspectos motores das modalidades. Este consiste de um tempo total para execuções de 5 minutos divididos em 5 ciclos de 1 minutos sem intervalo entre eles. Cada ciclo está contido de 6 exercícios com duração de 10 segundos, de forma contínua, e ao final de cada ciclo outro inicia-se com os mesmos exercícios executados anteriormente, sendo eles nesta ordem: agachamento completo, flexão de braço, abdominal, meio – sugado, flexão de quadril em pé e salto grupado. Estando o avaliador com um cronómetro para controle do tempo, apito para sinalizar a mudança de exercício e uma tabela de colecta de dados para registar as execuções realizadas. O teste tem como objectivo analisar o número máximo de execuções realizadas correctamente. Para análise de dados quanto à manifestação da capacidade foram utilizados, Média e Desvio Padrão, e para análise do rendimento foi desenvolvida uma tabela onde podemos observar o comportamento da resistência a cada ciclo realizando análise em carácter vertical de resultados e uma análise quanto à resistência de cada grupo muscular existente no teste em carácter horizontal como na tabela abaixo. Segue como exemplo a tabela 1 de colecta de dados com resultados meramente ilustrativos para maior compreensão:

Tabela 1. Colecta de dados e análise em carácter vertical e horizontal

Agt – Agachamento / Fb – Flexão de Braço / Abs – Abdominal / Ms – Meio-Sugado
Fq – Flexão de Quadril em Pé / Sg – Salto Grupado

Resultados
Após a aplicação dos testes nas modalidades, foi possível citar os atletas de luta – olímpica. Estes apresentaram maior média de execuções (253,1 ± 16,67), como demonstra a tabela 2.

Tabela 2. Média e desvio padrão do total de execuções do teste

Quanto ao número de execuções por cada ciclo analisando-os individualmente podemos citar o a luta - olímpica que obteve maior média de execução em todos ciclos, como demonstra a tabela 3.

Tabela 3. Média e desvio padrão do total de execuções por ciclos

Quanto ao número de execuções por exercício podemos citar maior média da luta - olímpica nos exercícios de agachamento, flexão de braço, abdominal e meio – sugado. O judo no exercício de flexão de quadril em pé e o taekwondo no salto grupado, tabela 4.

Tabela 4. Média e desvio padrão do total de execuções por exercícios



Discussão

O aspecto norteador desta discussão serão os resultados encontrados nos testes aplicados aos atletas, influenciando e levantando um parâmetro que é a potência e a capacidade do sistema energético.

Um factor que mereceu grande destaque foram os números de execuções do teste da luta-olímpica que apresentou a média de 253,1 ± 16,67, porém apresentou um declínio quanto à manutenção de execuções por ciclo. O boxe foi à modalidade que apresentou maior constante nos ciclos (1° ciclo 43,1 ± 2,46, 2° ciclo 42,9 ± 2,28, 3° ciclo 41,7 ± 2,66, 4° ciclo 40,4 ± 2,54, 5° ciclo 38,6 ± 2,98). Assim permitindo observar a relação da luta-olímpica com a potência do sistema energético e relacionar o boxe com a capacidade do sistema. Através destes parâmetros é possível mencionar que o carácter da manutenção das execuções ao longo dos ciclos também merece relevância nas análises do teste, uma vez que é muito difícil estabelecer uma sólida ligação entre adaptações fisiológicas ao treinamento, nível de formação e desempenho (SBRICCOLI et AL., 2007). Ide e Padilha (2005), relatam que nas lutas desportivas existe um conjunto amplo de movimentos motores complexos. Verchoshanskij (2000b), diz que ao mesmo tempo é apropriado um alto nível de desenvolvimento da capacidade de resistir a fadiga sem diminuição da eficácia das acções técnicas e tácticas e dos métodos. Através desta citação podemos reflectir sobre a qualidade do trabalho do boxe onde manteve sua efectividade. Também como cita Monteiro (2002), ao dizer que a resistência muscular é a capacidade dos músculos realizarem determinados movimentos o maior tempo possível sem perder a eficácia. Assim Suaréz e Fernández (2004), mencionam, a acção motriz óptima está determinada pela eficiência dos movimentos dirigidos ao cumprimento de um objectivo, e Platonov e Bulatova (2003), relata que “uma estimulação objectiva na preparação só é possível por meio da utilização de esforços da disciplina dada, que impõe uma mobilização extrema das possibilidades funcionais correspondentes”. Como exemplo, a força na luta greco-romana, definindo-se conceitualmente como a aplicação de métodos de resistência progressiva a qual pode ser o próprio peso corporal, citando que este se trata de um desporto acíclico (SUÁREZ, 2002), assim como é necessário aprofundar a investigação quanto ao metabolismo energético e resposta cardiovascular em períodos diferentes do treinamento (YOON, 2008). Tal fato demonstra uma limitação deste estudo, pois os indivíduos da amostra apresentavam-se em períodos diferentes do calendário desportivo em função de suas modalidades. Entretanto, um estudo com atletas de luta-olímpica realizando testes e avaliações longitudinais não apresentou variações nas variáveis de força (UTTER, 2002).

São várias as publicações em que se diz o quanto é difícil controlar a intensidade dos treinamentos físicos, como cita Cocchiarale (2003), sobre o que está descrito no Guidelines for exercise testing and prescription do Colégio Americano de Medicina Esportiva (1995), neste sentido, quanto mais específicas às necessidades da modalidade forem atendidas na avaliação melhores informações estarão disponíveis para prescrição do treinamento. Nunes et al. (1998), cita Baboghluian et al. (2001), e Sharp e Koutedakis (1987), referindo-se de que é necessário avaliar atletas utilizando-se ergômetros mais específicos que produzam os gestos ou a acção aproximada daqueles verificados na competição.

Conclusão

Através da análise foi possível concluir que os atletas de luta – olímpica apresentaram maior média de execuções, e que os atletas de boxe obtiveram melhores resultados quanto à manutenção da capacidade, apresentando pouca variação entre os ciclos. Em relação ao judo estes atletas apresentaram melhores resultados na flexão de quadril e ao taekwondo no salto grupado, provavelmente devido às características da modalidade. Os testes e avaliações são meios necessários para apontar as condições actuais do indivíduo e nortear a prescrição ideal do treinamento, estes devem ser adequar às necessidades e objectivos do atleta, objectivando a maior proximidade das características da modalidade em relação à capacidade física analisada.

Biografias:

· BALIKIAN JÚNIOR, P; DENADAI, B.S. Aplicações do limiar anaeróbio determinado em teste de campo para ciclismo: comparação com valores obtidos em laboratórios. Revista Motriz, Rio Claro, vol.2 n.1, p.26-32, 1996

· CATALÁ, S.A.G. Los test pedagógicos en la lucha deportiva. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, vol.9, n.62, p.1-11, 2003. http://www.efdeportes.com/efd62/lucha.htm

· COCCHIARALE, N.F.B.R.; ARAÚJO, C. F.; COSENDEY, A.E.; FERNANDES FILHO, J. O uso de análises bioquímicas e hematológicas na prevenção do sobretreinamento no judo – Estudo de caso. Fitness & Performance Journal, Rio de Janeiro, vol.2, n.4, p.199-206, 2003.

· FORTEZA, A. Métodos del entrenamiento deportivo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, vol.5, n.20, p.1-5, 2000. http://www.efdeportes.com/efd20a/metod.htm

· FRANCHINI, E.; NAKAMURA, F.Y.; TAKITO, M.Y, KISS, M.A.P.D.M.; STERKOWICZ, S. Análise de um teste específico para o judo. Kinesis, vol. 21, p.91-108, 1999.

· GARCÍA, J.E.L.; BESTARD, Y.L. Sistema de roles en la lucha libre olímpica y lucha clásica o grecorromana. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, vol.5, n.19, p.1-6, 2000. http://www.efdeportes.com/efd19/lucha.htm

· IDE, B.N.; PADILHA, D.A. Possíveis lesões decorrentes da aplicação das técnicas do jiu-jitsu desportivo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, vol.10, n.83, p.1-7, 2005. http://www.efdeportes.com/efd83/jiu.htm

· LIMA, E.V.; TORTOZA, C.; ROSA, L.C.L.; LOPEZ-MARTINS, R.A.B. Estudo da correlação entre a velocidade de reacção motora e o lactato sanguíneo, em diferentes tempos de luta no judo. Revista Brasileira de Medicina do Exporte, vol.10, n.5, p.1-10, 2004.


GRUPO DESPORTIVO DA MOURARIA

SECÇÃO DE LUTAS OLÍMPICAS

CARLOS NUNES

GRECO-ROMANA

LIVRE OLIMPICA

GRAPPLING

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