Histórias de Luta por: Pedro Hipólito

As minhas memórias da Lutas Lutas Amadoras

por Pedro Gustavo Hipólito a Quarta-feira, 22 de Setembro de 2010 às 0:20.

"Lutas Amadoras", modalidade também conhecida por "Lutas Olímpicas", trata-se de um dos desportos mais antigos, tradicionais e completos do mundo, fazendo parte do programa dos Jogos Olímpicos desde os primeiros Jogos da Grécia Antiga. É praticada em dois estilos: a Luta Livre Olímpica e a Luta Greco-Romana.

Nos anos de 1977/78, tinha eu 6/7 anos e o meu irmão Nuno (grande Sportinguista, entretanto falecido em 2005) 7/8 andávamos sempre a brigar um com o outro lá em casa, e eramos hiperactivos, então como o meu pai tinha um colega de trabalho que treinava lutas amadoras no Sporting, que na altura não tinha camadas jovens, este levou-nos para nos irmos entretendo os dois lá nos tapetes de luta, enquanto decorriam os treinos dos séniores (na altura eram treinadores os irmãos Grilo, os mestres Luís - que foi 3 vezes aos Jogos Olímpicos - e João). Deste tempo recordo-me dos atletas, já então séniores, Alberto Covas e do Ardisson, penso que o mais novo.

Não tenho a certeza, mas penso que no ano seguinte, 1979, é criada a equipa de infantis no Sporting, a qual integramos logo de início, sendo treinados pelo mestre Armando Fernandes (entretanto falecido). Posteriormente veio-nos treinar um outro mestre que era emigrante em Clermont-Ferrand, França, que apenas me recordo chamar-se Paulo, mas que nos treinou apenas uns meses, visto que o que ganhava lhe chegava apenas para a alimentação, segundo ele nos dizia, estando alojado no centro de estágio do Sporting. Com ele aprendemos algumas técnicas desconhecidas cá em Portugal, na altura, e que deixava os outros atletas surpreendidos, não dando assim hipóteses defesa. Nesta altura eramos sempre acompanhados do meu avô Joaquim que, num cantinho, assistia atentamente aos nossos treinos.

A primeira competição em que participei foi em Runa, considerada a "capital portuguesa da luta", onde o público enchia sempre os recintos, mas que, incompreensivelmente, não tem qualquer clube actualmente.

Nas competições eramos acompanhados sempre pelo roupeiro Sr. Gaspar, que nos levava os equipamentos.

Recordo-me perfeitamente que não havia nenhum clube que nos fizesse frente. Colectivamente eramos os "maiores". Assim de momento recordo-me dos companheiros de luta, além do meu irmão, Paulo Vieira, Paulo e Rui Ambrósio. Não havia um fim de semana em que não traziamos um troféu para a secção de luta (curiosamente, tive oportunidade de ver alguns desses troféus há pouco tempo no museu do Sporting), que ficava no interior da Porta 10-A. Pessoalmente, tinha um adversário que nunca consegui "bater", o Xana do Arroios, por isso normalmente subia de categoria de peso. Com o Paulo Ambrósio ele não tinha hipóteses...

Nos dias de jogo de futebol em Alvalade, quando chegávamos dos torneios, entravamos todos "inchados" pela Porta 10-A (eramos putos), equipados a rigor! A nossa sala de treino ficava por baixo da bancada central do antigo Estádio de Alvalade, entre a sala de taekondo e boxe. Recordo-me que normalmente íamos um pouco mais cedo para ficarmos a espreitar os treinos de boxe dados pelo mestre Ricardo Ferraz (grande Leão), ele a dar grandes "chapadas" com as luvas de treinos aos seus pupilos, e nós a rirmo-nos cá à porta.

Os nossos balneários eram também no interior da Porta 10-A, quando se entrava do lado direito. Era um espectáculo, porque não era raro o dia em que nos cruzassemos com os nossos ídolos, fossem jogadores do futebol, Jordão, Manuel Fernandes, etc., fosse com o Carlos Lopes ou Fernando Mamede.

Por vezes íamos também correr para a pista de tartan, e jogar futebol por trás do peão, num ringue que havia lá.

Eramos uns putos todos babados, porque eramos dos poucos que tinhamos equipamentos e botas de luta a rigor. Os equipamentos de luta (maillots) são vermelhos ou azuis e nós no Sporting tinhamos verdes e laranjas.

No que respeita a títulos, colectivamente ficavamos quase sempre em primeiro, individualmente fui uma vez campeão nacional, e o meu irmão 2 ou 3. Lembro-me de ganhar também algumas vezes a taça de Portugal. Ou não fosse eu o capitão da equipa (eu e o meu irmão eramos os mais antigos).

Fui também 2 vezes ao Torneio Internacional do Algarve (em Monte Gordo). Íamos numa carrinha ford transit ou bedford toda podre, mas pintada a rigor com as cores e emblema do Sporting, e nunca nos deixou a pé e ficávamos no Hotel Vasco da Gama (lembro-me perfeitamente).

Para que se saiba, a secção de Lutas Amadoras do Sporting é a 5ª do clube com mais troféus. No entanto, incompreensivelmente, neste momento não existe esta modalidade no clube!

Depois, saí da luta e fui para o rugby para o CDUL, onde permaneci por pouco tempo.

Mais tarde, em 2001, regressei à luta, tendo actualmente o curso de treinador nível II e de árbitro de luta.

Nessa altura fui convidado pelo Mestre Fernando Carreira para ir treinar no Conde 2, tendo estado cerca de 3 anos a apoiá-lo como treinador adjunto, onde obtivemos muitos bons resultados, entre vários títulos individuais e colectivos, tendo mesmo a nossa equipa técnica alcançado o prémio atribuído anualmente pela Federação de "Treinador Dedicação do Ano", em 2003. Foi dos melhores períodos que passei na luta pela forma de estar e método de trabalho do Mestre Carreira, orgulhando-me muito por ter participado na formação desportiva de vários jovens, destacando em especial a melhor lutadora feminina portuguesa (na minha opinião, é claro...) - a Liliana Santos.

Neste período fui também presidente do Conselho Jurisdicional da ALADS-Associação de Lutas Amadoras do Distrito de Setúbal, destacando a minha participação na elaboração dos estatutos e na sua constituição, em virtude da extinção da antiga ALAS-Associação de Lutas Amadoras de Setúbal.

Com a extinção da Luta no Conde 2, voltei a afastar-me da modalidade... o que aconteceu também por motivos profissionais.



Saudações Leoninas

Publicado por Pedro Hipólito no forumsporting.com em 19/8/2007

Comentários

Unknown disse…
Gostei desta História.
O Pedro Hipólito fala de muitos nomes que conheço muito bem.
Ele é mais novo do que eu cerca de 12 anos.
Especialmente o Fernando Ardisson, nunca mais o vi, isto são cerca de 35 anos, e se alguém souber do contacto dele, agradecia.
Eu sou José Xavier, fui Internacional, campeão nacional e atleta do Grupo Desportivo de Runa, o grande adversário do Sporting nos anos 60/70.

Neste momento, desde 1981, moro na Holanda, onde também pratiquei luta, mas desde há 5 anos pratico atletismo de estrada com a minha mulher, onde as meias maratonas são até agora o que muito gosto de fazer e no próximo ano farei a minha primeira maratona aos 51 anos de idade.

Um dia destes também conto a minha História na Luta.
Tenho um blogue sobre as minhas actividades desportivas
http://josexavier1.blogspot.com

Um abraço
José Xavier

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