ENTREVISTA - João Costa
O nosso primeiro entrevistado foi o Director Técnico Nacional da FPLA, Pedro Silva, o segundo foi o Director Técnico Distrital, Lidio Alecrim, agora entrevistamos o Presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, João Carlos Costa, onde respondeu às perguntas de forma directa e sincera. Para ver todas as entrevistas carregar na etiqueta "Entrevistas".
Boa leitura!!!
A voz do apito nacional
Como e onde iniciou a modalidade?
- Iniciei a minha vida nas Lutas em 1975 através do Plano de Desenvolvimento Desporto da Direcção Geral dos Desportos, plano esse que consistia em promover a prática de desporto dando a conhecer até então desconhecidas nas aldeias, abrindo alternativas ás então praticadas e conhecidas (Futebol, Atletismo, Hóquei em Patins, etc.). Com formação de Monitores, surgiu então o Sporting Clube de Alenquer entre outros que abriram as portas a esta modalidade e iniciando também em Competições Regionais e Distritais, embora já existisse a Federação Portuguesa.
O que o levou a optar pela modalidade?
- Como admirador de Desportos de Combate, praticava Artes Marciais no SC Alenquer e assistia de vez em quando aos treinos de Luta, e como sentia necessidade de praticar uma modalidade com competição, e não havendo outras aproveitei a oportunidade e entrei para a Luta.
Descreva um pouco a sua Carreira como Atleta.
- Representei o SC Alenquer de 1975 a 1977, sendo contactado com mais dois colegas por dirigentes do Sport Lisboa e Benfica para ingressar no clube o que veio a acontecer.
Que títulos obteve?
- Fui um lutador modesto, tendo em conta a potência que a Luta tinha nessa época, a qualidade de lutadores que eram francamente muito fortes, ainda assim obtive alguns títulos de Campeão Regional, Distrital, Vice-Campeão Nacional Individual e por Equipas ao serviço do SL Benfica.
Que cargos desempenhou na Luta?
- Ao longo da minha carreira desportiva desempenhei cargos como atleta, monitor da Direcção Geral do Desporto onde exerci funções de Delegado Regional, Dirigente em Órgãos da FPLA e actualmente como Árbitro Internacional e Presidente da Comissão Nacional de Arbitragem.
Um dia acordou e lembrou-se “quero ser Árbitro” conte o que o levou para essa área.
- Por motivos de vida profissional não foi possível continuar como atleta do SL Benfica, trabalhava numa Empresa no Cartaxo propriedade do Major Valentim Loureiro e deslocava-me após horário de trabalho, três vezes por semana na viatura da empresa para o Estádio da Luz a fim de treinar das 19h às 21.30 horas, o regresso era feito de Comboio até Vila Franca de Xira e autocarro até casa onde chegava perto da 1 hora da madrugada, era cansativo, então por gostar da Luta e não querer afastar-me da modalidade optei por abandonar a prática e surgindo a oportunidade de frequentar o curso de Árbitros, o que aconteceu vindo a ser considerado apto. Nesse curso lembro-me que havia 19 candidatos, desses passaram três (João Costa, Orlando Rodrigues e Norberto Rodrigues, actual Presidente da FPLA).
Temos bons Árbitros? O que é preciso para se ser um bom Árbitro?
- Na minha opinião e pelo que observo nos Árbitros nalguns Países, temos bons Árbitros, prova disso são alguns Torneio Nacionais em que participam Clubes e Árbitros Nacionais de Espanha e que nota-se diferença para melhor dos nossos Árbitros. Quanto á outra questão para se ser um bom Árbitro deve-se cultivar algumas qualidades, e ao reconhecer-mos que o Árbitro é um mediador e um elemento integrante da competição, a quem compete decidir sobre a validade das prestações competitivas dos atletas, estamos a pressupor que a respectiva integração na sua modalidade se faz por manifesta qualidade pessoal que asseguram a fiabilidade das suas interpretações técnicas, a sua aparência física e a apresentação, a confiança e serenidade, a honestidade, a integridade, imparcialidade, rectidão, a sobriedade e a modéstia, firmeza e coragem, coerência e consistência do julgamento, concentração e descrição são estas a escala para um Bom Árbitro.
Qual o objectivo da CNA? Está a funcionar no seu todo ou serve só para convocar Árbitros?
- A Comissão Nacional de Arbitragem é um órgão representativo dos Árbitros de Lutas Amadoras e tem como objectivo, tal como está estipulado, dirigir a arbitragem, convocar os Árbitros para as competições, avaliar os Árbitros, estabelecer Cursos e Estágios, promover, despromover e suspender Árbitros, de um modo geral tudo que diga respeito ao campo de arbitragem é da responsabilidade da CNA, não sendo um órgão autónomo os itens atrás referidos são da sua competência. Para responder mais directo a essa questão, sim a CNA está a funcionar no seu todo.
Existe um Código Deontológico para os Árbitros nesta modalidade, acha que esta adaptado a nossa realidade?
- Não existe um Código Deontológico dos Árbitros, mas sim um projecto tal como o anterior Regulamento da Carreira dos Árbitros que não esta legalizado, porque para isso teria que ser aprovado pela Assembleia-geral da FPLA. Esse projecto poderá nalguns aspectos estar desfasado da realidade, mas não passa disso um projecto.
Também existe o Regulamento da Carreira de Árbitro, a CNA põe-o em pratica?
- Na verdade existe agora um Regulamento da Carreira de Árbitro que foi aprovado em Assembleia-geral da FPLA de 29/01/2008. A CNA está a seguir o que está regulamentado, no entanto alguns pontos do regulamento só puderam ser exercidos no final da época, tais como promoções, despromoções, estágios, cursos, etc.
Em questões sobre as promoções, como um Árbitro chega a Internacional?
- Um Árbitro para ser Internacional terá que estar na Categoria de Árbitro Nacional e ter um bom Curriculum, bastante prática, boa assiduidade às provas, razões que levam a CNA a propor a sua candidatura ao Curso de Internacional para além de ter menos de 42 anos (idade limite). Este foi o meu percurso até ao momento, pois tenho 33 anos de Luta, sendo 29 de Árbitro e destes 22 como Árbitro Internacional. Um Árbitro Internacional é um investimento da FPLA, pelo que tem que ter disponibilidade para deslocação ás Competições Internacionais. Cada vez se torna mais difícil ascender a essa categoria quer pela dificuldade dos exames quer pelas exigências, tais como a obrigatoriedade de falar e escrever Inglês ou Francês, Línguas Oficiais. Mas para além disso um problema condiciona os Árbitros Nacionais, uns ultrapassaram a idade, outros não tem assiduidade nas provas a que são convocados, isto dificulta um pouco o quadro, dado que existia 4 Internacionais e por passagem a honorário por limite de idade do Árbitro Marcolino Ramos a vaga deixou de ser e não vejo perspectivas de ocupação desse lugar nos tempos mais próximos.
(“… lembro-me arbitrar combates do Orlando Gonçalves, Luís Grilo, Joaquim Vieira, Leonel Duarte, Alberto Covas, Pedro Silva, eras completamente diferentes de hoje.”)
Na arbitragem das Lutas devia haver o Apito Dourado?
- O Apito Dourado hipoteticamente só tinha razão de existir nas Lutas, se estas movimentassem milhões de euros, o eterno problema, deste modo não deslumbro qualquer razão para tal aconteça na nossa modalidade.
Neste último Curso de Arbitragem, houve imensa gente inscrita. Conseguimos aproveitar todos ou deixamo-los fugir como em cursos anteriores?
- Sim, foi positivo o último Curso de Árbitros e foram quase todos aprovados, no entanto devo dizer que não é da responsabilidade da CNA o afastamento, estes deve-se a muitos factores, alguns do fórum pessoal, tais como indisponibilidade, a intolerância nas competições para com estes novos Árbitros, porque um Árbitro leva anos a formar e é necessário muita prática que só se obtém nas competições.
Como somos uma modalidade com o círculo de intervenientes muito pequeno, entendo que a participação nos Cursos de Árbitros de candidatos que são treinadores ou atletas no activo, leva-nos a outro tipo de situações, e algumas se observam nos cursos anteriores em que foram aprovados como Árbitros, mas na realidade não exercem essa função, ora implica um quadro de bastantes Árbitros, que na verdade se limitam a meia dúzia nas provas, sendo que alguns ainda criticam a falta de Árbitros nas competições, pelo que é necessário assumir-mos de uma vez por todas uma só função.
Eu não necessito de uma lista de 30 Árbitros, quando posso contar com 10 deles.
Que futuro prevê para a Arbitragem Nacional?
- Em relação ao futuro, não sou de fazer futurologia, mas não estou muito optimista quanto à arbitragem no seguimento do que as estatísticas revelam, ela tem que deixar de estar assente em 5 ou 6 Árbitros, peças fundamentais “os tais que nunca falham as provas” para isso todos os outros Árbitros tem que ser responsáveis na sua condição, e só praticando podem ascender a uma promoção subindo assim na carreira com justiça.
Como a FILA convoca os Árbitros para Torneios importantes? Quais são os critérios?
- Na Federação Internacional de Lutas Associadas existe 3 Categorias de Árbitros Internacionais, 3ª, 2ª, 1ª. Todos os Torneios, Campeonatos da Europa, do Mundo e Grandes Prémios, estão calendarizados pela FILA e catalogados pelas categorias de Árbitros que podem actuar. Sendo os Árbitros de 1ª, categoria máxima considerados como os melhores do Mundo, podem arbitrar todas as competições, as outra categorias somente os Torneios Internacionais. Deste modo a presença dos Árbitros nas competições tem a haver com a participação do País na prova, e quantidade de Lutadores, com excepção dos Campeonatos do Mundo em que são nomeados pela FILA de acordo com a observação do seu desempenho no Campeonato da Europa.
Desde do tempo do Luís Vieira Caldas, nenhum Árbitro Português está presente nos Jogos Olímpicos. Como um Português consegue ir aos Jogos Olímpicos arbitrar?
- É complicado explicar, porque existe muitos factores importantes que implicam a participação nos Jogos Olímpicos. Os Árbitros participam nas provas designadas pela FILA para a Selecção Olímpica, é elaborada um cota de X Árbitros, que irá ser reduzido ao longo das competições consoante o seu trabalho até atingir o nº estipulado. Todos os Árbitros tem que ter Lutadores do seu País nos Jogos, depois é o factor nº de Lutadores, sendo que grandes potencias apresentam vários atletas terão a oportunidade de incluir mais de que um Árbitro. No final se ainda subsistir um nº superior de Árbitros irá haver um corte, e no nosso caso se tivéssemos um Lutador/um Árbitro, seria certo que nos retiravam da lista, visto não sermos uma potência da modalidade. Mas no entanto a presença de um Lutador Português nos Jogos, viabilizava a presença de um Árbitro.
Que Torneio Nacional e Internacional gosta mais de arbitrar? Porque?
- A Nível Nacional a Taça da FPLA, pelo seu simbolismo e no que representa, Internacionalmente os Campeonatos da Europa e do Mundo, pelo facto de serem competições onde estão os melhores atletas do Mundo, Olímpicos, etc.
A Luta é um desporto pouco divulgado a nível nacional, porque é que isso acontece?
- Essencialmente por não movimentar muitos meios financeiros, o que origina falta de noticias, assim sendo não vende jornais, revistas ou televisão. Os Jornais sobretudos os desportivos estão pura e simplesmente marimbando para o aspecto educativo, social e desportivo dos jovens, noticiam o que lhes pagam e o que faz vender.
Na sua opinião, o que deve melhorar na Luta?
- Uma das situações que gostaria que melhorasse na Luta, e falo na prática pois tenho debatido com treinadores antes do início das competições, é na dignificação da modalidade. Hoje em dia a televisão, através da FPLA está presente em algumas provas é desejável passar uma mensagem duma modalidade séria, até mesmo para o publico que poderá assistir por breves momentos. Já estou na Luta á 33 anos, passei por muitas fases e estamos a banalizar um pouco as competições. Não quero ser mal interpretado, porque talvez seja por ter passado por épocas diferentes na Luta, lembro-me arbitrar combates do Orlando Gonçalves, Luís Grilo, Joaquim Vieira, Leonel Duarte, Alberto Covas, Pedro Silva, eras completamente diferentes de hoje.
Que última mensagem gostaria de deixar aos leitores desta entrevista?
- Quero deixar um pedido a todos os leitores desta entrevista, nos diversos meios que for publicada, especialmente aos ligados ao Mundo das Lutas, como Árbitro e Presidente da CNA, se gostam da modalidade participem em qualquer desempenho, como Treinador, Dirigente, Árbitro, etc. Também a todos aqueles atletas que abandonam por motivos de vida profissional e que gostam da Luta, sigam o meu exemplo, venham para Árbitro, porque não?
Obrigado João Costa pelo tempo disponibilizado e por ter respondido a estas perguntas de um modo aberto e sincero.
Comentários
Porque vou seguindo esta modalidade e adquiri uma publicação sobre a mesma refiro que na mesma consta que um arbitro de nome Mariano da Costa Pedro foi arbitro olimpico depois de Luis Vieira Caldas. Tratando-se duma publicação sobre a história da luta....parece-me de rectificar. Abraco